O Brasil como um todo e principalmente essa região até então “proibida” no século XVIII e XIX, eram ambientes propícios às grandes expedições cientificas. No inicio do século XIX o Brasil experimentava um período de “aberturas” econômicas e culturais que se tornou ainda mais favorável a esse intercambio.
Uma dessas grandes expedições que passaram pela nossa região, foi a do sábio Barão Georg Heinrich von Langsdorff, um médico alemão a serviço da Rússia, apaixonado pelo Brasil, embora reconhecesse em seus diários que era impossível fazer uma viagem confortável por esse país naquela época.
Essa expedição iniciou-se em 1821 e contava com dezenas de homens contratados para explorar todo o país, no entanto Langsdorff já havia estado no Brasil pela primeira vez em 1804 em Santa Catarina e depois em 1813 como Cônsul-Geral da Rússia no Rio de Janeiro. Para a expedição realizada ao interior do Brasil no ano de 1821 foram contratados botânicos, zoólogos, astrônomos, e especialmente artistas como Rugendas, Taunay e Florence.
Esses artistas produziram mais de 360 desenhos e aquarelas retratando o Brasil do inicio do século XIX, inclusive esta que ilustra esse artigo, de autoria de Rugendas e datado de 12 de Julho de 1824, retratando o garimpo na “Descoberta Nova”, no atual Município de Descoberto. Toda a documentação cientifica original dessa expedição encontra-se na Rússia.
Na verdade a passagem pelo local não era prevista por Langsdorff e sua expedição, mas ao passar pelo interior de Minas desde São João Del Rey, corria a notícia da “Descoberta Nova”, uma grande jazida de ouro próximo ao vale do Rio Pomba. Tanto se dizia sobre o achado e tantos partiam da região central de Minas para esses sertões, que a expedição optou por conhece-la antes de ir à Vila Rica.
Outras vezes a expedição ouviu falar sobre a “descoberta” e após uma breve estadia em Barbacena para colocar em dia os relatórios e envia-los ao Rio de Janeiro, cruzaram a Mantiqueira e atingiram a Freguesia de São Manoel do Pomba, onde pernoitaram. Neste ponto Langsdorff já faz comentários que vão dar uma primeira visão do que foi essa descoberta: Rio Pomba é o lugar mais miserável que já conheci. Não conseguimos sequer colchões para dormir... A Igreja é uma das mais antigas da região e está em decadência, as casas todas estão abandonadas pelos seus habitantes que foram quase todos para a “Descoberta Nova”.
Após uma noite que a classificaram como “horrível” partiram para a “Descoberta” pela margem direita do Rio Pomba, pelo caminho usual da época onde o cientista cita algumas fazendas já existentes como a Fazenda Bela Vista da Estiva e ribeirões e trilhas que ali havia. Pararam pela primeira vez na casa do “Torneiro”, local que ainda tem esse nome, entre os municípios de Rio Novo e Guarani.
Seguindo viagem atingiram a fazenda de Manoel Pereira da Silva, atualmente no Distrito de Furtado de Campos (Rio Novo) onde pernoitaram. Langsdorff comenta que o anfitrião era um homem de 70 anos, com dez filhos e que tinha muita disposição tendo saído ele próprio para pegar as mulas de madrugada para a expedição partir na manhã seguinte. Após mais algumas horas de viagem pela manhã, chegaram à fazenda do Pouso Alegre (Descoberto), de um morador filho da família Dias Teixeira, vinda de Queluz. Aqui só havia “esta fazenda e uma longa fila de palhoças. São as casas dos mineiros (se é que posso usar essa denominação...”), escreveu o cientista.
É impressionante a situação descrita pelo viajante que também se impressionou com a aldeia: “toda a aldeia tinha um aspecto de uma feira, com suas carrocinhas de comidas, aqui homens deitados sobre esteiras de palha, lá uma moça ou mulher... mais adiante rodava-se uma agulha para ver quem ganha e quem perde. Mágicos mostram sua arte. Vinhos, aguardente de cabeça, restilho e prazeres eram vendidos por toda parte...”.
Amarraram seus cavalos e foram ver as minas que estavam em grande atividade. “Velhos e jovens, grandes e pequenos revolvem a terra... Toda a lavação do ouro, pelo menos as que assisti até hoje acontece sem nenhum método, ao Deus dará. E aqui principalmente chegou-se a loucura...”.
Ficam claros nos diários de viagem que os exploradores que ali se encontravam não eram mineradores profissionais, pois não sabiam lidar nem com a exploração do ouro, nem com a riqueza: “Foi realmente estranho ver aqui pessoas que há poucas semanas não possuíam sequer um tostão e que agora lidam com talheres de prata como se fossem moedas de cobre. Nem mesmo ouro tem valor. Pode se dizer que como foi ganho, será desperdiçado. É como uma loteria, ninguém sabe avaliar o valor do ganho”.
O fato dessa descoberta causou um grande impulso e movimentação na povoação da região. Conforme consta também nos diários, “após dois meses da descoberta já se reuniram aqui mais de 3.000 almas”, mas nem todos tinham os mesmos objetivos: “alguns vieram para se divertir. Jogadores, beberrões, prostitutas e muitas pessoas que de uma forma ou de outra tentam ludibriar uns aos outros...”.
Outro fato interessante é a condição em que o metal foi explorado sem o conhecimento do governo, após dois meses da descoberta já haviam sido exploradas de 30 a 40 arroubas de ouro e tudo ia se desaparecendo clandestinamente: “Um chega, lava o ouro e vai embora, outro da mesma forma e assim pode se dizer que aqui as pessoas mudam diariamente”.
Entre muitas, essas são algumas das considerações feitas pelo viajante que voltou a Rio Pomba para se encontrar com o restante da expedição, pegar a bagagem e ir até ao Presídio visitar o Sr. Guido Marliére, depois seguir de lá para Vila Rica.
Toda essa viagem tomou proporções de uma grande epopéia, causou a perda da razão, dos bens, de muitos indivíduos e da própria vida deste que foi um dos grandes cientistas a explorar o Brasil e permitir através de seus relatos que a história do País e da nossa região contasse com esses registros.
Manoel Basílio Furtado, filho de Manoel Antônio Furtado e Maria Luiza de Jesus, nasceu a 2 de novembro de 1826 na freguesia de Capela Nova das Dores, Paróquia da Real Vila de Queluz (Lafaiete), em Minas Gerais. Em 1830, seus pais transferiram residência para a freguesia da Santíssima Trindade do Descoberto (atual município de Descoberto), onde adquiriram a “Fazenda da Independência”. Ali Basílio Furtado viveu parte de sua juventude iniciando sua convivência com a natureza, à qual se dedicou intensamente. Por ocasião da revolução política que abalou Minas Gerais, em 1842, seu pai, então conhecido como Capitão Basílio, assumiu decidida liderança a favor do Partido Liberal. Vencida a rebelião, pelos chamados legalistas, teve que se refugiar para escapar da prisão. Nesta época, com 16 anos, Basílio Furtado tornou-se amigo inseparável de seu pai, levando diariamente em seu refúgio, alimentos, conforto e notícias, até que a anistia veio permitir seu retorno ao lar.
Reiniciando seus estudos, Basílio Furtado internou-se no Seminário de Mariana e após brilhante curso, transferiu-se para a Corte (Rio de Janeiro), fazendo seus estudos preparatórios ao ensino superior, no famoso Colégio Victorio. Matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas logo no primeiro ano foi gravemente acometido de febre amarela e para tratamento, seguiu de imediato para São Paulo, onde logo após, matriculou-se na Faculdade de Direito.
Atendendo a conselhos de seu pai e também à própria vocação, retornou à Corte (Rio de Janeiro) e concluiu seus estudos na Faculdade de Medicina até que, em 26 de novembro de 1857, após de defender com brilhantismo sua tese, recebeu o título de Doutor em Ciências Físicas e Naturais. Ainda como acadêmico, serviu como interno no Hospital de Coléricos de Nossa Senhora da Lapa e no Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, onde prestou relevantes serviços, dedicando-se principalmente às vítimas carentes de recursos.
Uma vez formado, o Dr. Basílio Furtado iniciou sua clínica em São João Nepomuceno (nesta cidade, existe a Rua Capitão Basílio, em homenagem ao pai do Dr. Basílio Furtado), onde permaneceu até 1862, quando se casou com Felisbina das Chagas Werneck, filha do Capitão Ignácio da Silva Campello e Felisbina Maria de Jesus, na época já falecidos. Casamento registrado no Livro 1 – Página 23 – Termo 11 – do Livro de Registros de Batismos – Matrimônios – Óbitos de 1850 da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Rio Novo, do qual transcrevemos abaixo na integra: ( Somente o Livro 1 de Registros da Paróquia de N. Sra. da Conceição de Rio Novo, constam registrados no mesmo livro, embora havendo separação de páginas, os batizados, os casamentos e os óbitos)
“ Aos desoito de Outubro de mil oito centos sessenta e dois o Rev.º Joaquim dos Reis Meneses recebeu os contrahentes Dor. Manoel Basílio Furtado e D. Felisbina das Chagas Werneck. F.P. Francisco das Chagas Werneck e Domingos da Silva Espindola.”
O novo casal fixou residência em Rio Novo, na “Fazenda Santa Eugênia”, de propriedade do Capitão Francisco das Chagas Werneck, tio e ex-tutor de D. Felisbina. Nesta fazenda onde residiram até 1888, nasceram os três filhos do casal: Arthur Eugênio Furtado, Petronilha Furtado Ladeira ( casou-se com o Dr. Onofre Dias Ladeira ) e Eugênia Furtado Murgel ( casou-se com o Capitão Gustavo Adolfo Murgel ).
A política de imediato reclamou a competência do ilustre médico muito querido pela população de Rio Novo, a qual atendia sempre de forma abnegada e carinhosa. Exerceu por vários períodos o cargo de vereador, representando o Distrito de Rio Novo junto a Câmara Municipal de Mar de Espanha. De 1868 a 1870, foi eleito Deputado à antiga Assembléia da Província, tendo concorrido de forma decisiva para emancipação de Rio Novo (Lei 1644 de 13 de setembro de 1870).
Espírito adiantado e culto, seus princípios políticos eram ligados ao Partido Liberal Progressista. Admirador que se tornou de Teófilo Otoni, converteu-se aos ideais republicanos-evolucionistas, entretanto, muito condenou após o 15 de novembro, o banimento do velho Imperador, a quem tanto admirava e respeitava. A política , onde conquistou tantas amizades e admiração, na realidade não era o seu forte e muito menos a sua verdadeira vocação.
Seu ideal mais elevado e ao qual se dedicava com extraordinária devoção, era o estudo das ciências, principalmente da História Natural e de sua preferência, zoologia, antropologia e arqueologias indígenas. Levado por seu amor à ciência e ao estudo da natureza, fez em 1860 sua primeira excursão científica ao Itabapoana, percorrendo e estudando o vale minuciosamente. Ali encontrou e tornou-se amigo do famoso cientista, Professor Charles Fred Hartt. Entrou ainda em contato com os índios Purys, com eles caçando e convivendo com seus costumes, estudando sua língua, etc.
Foi “Correspondente Científico e Auxiliar” do Museu Nacional (Rio de Janeiro), ao qual prestou contribuições valiosas. Nesta condição, em expedição científica organizada pelo Prof. Hartt, sob a direção do Dr. Ladislau de Souza Melo e Netto, então Diretor do Museu Nacional, visitou em janeiro de 1875, a famosa gruta da Serra da Babilônia, na Fazenda da Fortaleza de Sant’Anna, na época pertencente aos herdeiros da Baronesa de Sant’Anna, mãe do Comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, falecido em 14 de fevereiro de 1872. No Museu Nacional do Rio de Janeiro, podem ser vistas três múmias de índios, que têm no catálogo da Seção de Etnografia os nºs. 3623 e 3624 e que foram encontradas em uma caverna da Serra da Babilônia. Tais múmias foram achadas casualmente, por caçadores (Antônio Paulino de Assis Alvim, Francisco Thomaz de Aquino Leite, Vicente Ferreira Dutra e outros), em 1873. Segundo relato do Prof. Sebastião Delvaux Tostes, publicado no “Anuário da Gazeta” (dezembro de 1951), tais múmias foram analisadas pelo Dr. Basílio Furtado e remetidas em seguida, para o Museu Nacional no Rio de Janeiro, (onde se encontram expostas até a presente data, 12/11/2000). Este achado, certamente motivou a famosa excursão à Fazenda da Fortaleza de Sant’Anna, (atualmente localizada no Município de Goianá), dois anos após, organizada pelo próprio Diretor do Museu Nacional e que contou com a presença dos conceituados cientistas e naturalistas estrangeiros como, Glaziou e Gorceix. O Dr. Ladislau de Souza Melo e Netto, sobre a referida excursão escreveu em seu relato (Apontamentos sobre os Tembetás – Adornos Labiaes de Pedra – da Collecção Archeologica do Museu Nacional, Vol. II - páginas 105 a 164 – 1877), do qual nos foi gentilmente cedida a cópia dos apontamentos do Dr. Ladislau Netto, junto aos Arquivos do Museu Nacional, e que descrevemos trechos da página 132:
“Devemo-lo – (referiu-se a um” “tembetá” – adorno indígena/pedra do lábio ) – ao Dr. Manoel Basílio Furtado, credor de nossa mui grata estima pelos inúmeros serviços prestados ao Museu Nacional e mais particularmente a nossa coleção arqueológica.” “...pude extrair da caverna da Babilônia alguns crânios daqueles que presumo ser dos Goitacazes...”
Em 1873, Dr. Basílio Furtado retornou às matas do Itabopoana para novos estudos, levando desta vez o seu companheiro Dr. Maurício Murgel. Após esta viagem, escreveu o livro “Itinerário da Freguesia do Bom Jesus do Itabopoana e Gruta das Minas do Castelo”, datado de 1875 e publicado em 1884. Durante vários anos, manteve relações de grande amizade com os mais renomados naturalistas, com eles correspondendo ativamente, prestando-lhes suas luzes e seu trabalho valioso. Entre seus amigos cientistas, já citados, consagrou elevada estima ao Dr. Algusto Goeldi, na época, Diretor do Museu Paraense. Este eminente sábio, transmitiu ao mundo europeu, os ensinamentos e o nome do Dr. Basílio Furtado.
Em 1888, Dr. Basílio Furtado mudou-se com sua família para Meia Pataca (atual Município de Cataguases), onde residia seu genro Gustavo Murgel, até que após o falecimento deste, transferiram-se para a localidade de Porto de Santo Antônio (atual Município de Itamarati de Minas). Em 1890, uma epidemia assolou a Região da Mata Mineira, que se viu de repente infestada de malária, febre amarela e ainda um mal que denominaram “febre da mata”. A família voltou para Rio Novo e o Dr. Basílio Furtado, encarregado pela Municipalidade de Cataguases, cuidou do tratamento aos enfermos pobres e desvalidos. Foi mais uma fase de intensa luta, de sacrifícios e devotamente, quando o Dr. Basílio Furtado, já idoso e com a saúde abalada, longe de seus familiares, dedicou-se de forma abnegada a cuidar de um número de enfermos de todas as classes, vitimados por terrível e insidiosa moléstia, assoladora e fatais. Assim como médico foi sobretudo um homem humanitário, caridoso e possuidor de tantas virtudes que o tornaram muito amado, admirado e respeitado por todos que o conheciam ou dele ouviam falar.
A “Revista do Arquivo Público Mineiro”, fascículos III e IV, em 1903, publicou uma pequena biografia escrita pelo escritor rionovense Carmo Gama, e também o trabalho “Morcegos do Brasil” - Contribuição para o estudo da zoologia do Brasil, escritos pelo Dr. Basílio Furtado e enviados para o Arquivo Público Mineiro pelo escritor Carmo Gama. Os jornais “Gazeta de Ubá” e “Gazeta de Rio Novo”, no período de 1889 e 1902, principalmente, publicaram vários artigos do Dr. Basílio Furtado, versando sobre suas pesquisas, como: “Cronologia do Sapé (Ubá) antigo e contemporâneo”; “Descrição e história de um crânio humano, achado em uma Gruta de São Geraldo”; “Tradução e Interpretação de alguns vocábulos Guaranys, da Província de Minas Gerais”. Dezenas de outros artigos foram escritos, contendo importantes contribuições ao estudo da natureza.
De 1891 a 1900, Dr. Basílio Furtado residiu em Ubá (no distrito de Sant’Anna do Sapé) onde constituiu uma firma comercial com seus amigos Manuel Hippólyto Simões da Costa, Maurício e Leopoldo Murgel. Em 1900, retornou a Rio Novo, onde faleceu em 13 de maio de 1903, com setenta e sete anos de existência dedicada ao trabalho constante e aos estudos. O Dr. Basílio Furtado foi sepultado no Cemitério Municipal de Rio Novo, e em seu túmulo, encontram-se sepultados também grandes personalidades do passado, como Dr. Onofre Dias Ladeira, Dr. Mário Hugo Ladeira e outros. O escritor Carmo Gama se referiu ao Dr. Basílio Furtado, com as seguintes palavras:
“Clínico notável pelo seu saber, tendo possuído bens e fortuna, morreu pobre, no entanto, deixando após si, a imorredoura tradição de haver sido sempre o mesmo homem, sempre o mesmo cultor da ciência...”
Em 1911, Olympio de Araújo ao se ingressar na Academia Mineira de Letras (01/07/1911), apresentou como trabalho literário, a biografia de Basílio Furtado, a quem admirava profundamente, a ponto de adota-lo como seu Patrono. As sábias palavras deste notável escritor rionovense, bem se aplicam a Basílio Furtado: “A verdadeira felicidade, a única felicidade, para o homem de espírito são, é a que decorre da convicção íntima de haver consagrado sua existência em obras meritórias, que o imortalizem na consciência unânime dos que o conheceram de perto, a fim de o recomendar à posteridade.”
Em Rio Novo, existia uma escola de 2º grau com o nome do Dr. Basílio Furtado, mas ainda existe uma rua com a denominação de Rua Dr. Basílio Furtado, para perpetuar a memória deste ilustre incansável pioneiro mineiro.
Fundação Cultural Chico Boticário
Rio Novo – MG
Biografia:
Sebastião Teixeira Lopes Lima (CABOCLO TEIXEIRA)
Sebastião Teixeira Lopes Lima: nasceu no dia 04 de janeiro de 1894, no lugarejo chamado Botafogo. Filho de Joaquim Teixeira Lopes Lima e Rosa Galdina de Jesus. O casal teve mais quatro filhas: Tereza, Carmelina, Judith, Iracema e mais um filho que faleceu ainda criança. O apelido de “Caboclo Teixeira” foi seu pai quem lhe conferiu, pois desejava muito um filho homem, então quando nasceu dizia para as pessoas que iam visitá-lo: “Esse vai ser um Caboclo de fato, valente, forte e corajoso”. Caboclo Teixeira era alto, magro, moreno, nariz aquilino, e com o passar dos anos, seu andar tornou-se cambaleante.
Casou-se com Maria Augusta Alves, filha de Manoel Augusto Alves e Henriqueta Augusta Furtado no ano de 1918, indo morar junto com seus pais, onde cuidava da lavoura e de um pequeno comércio que tinha ligado à casa que morava. Desta união nasceram oito filhos: Maria de Lourdes (Filhinha), Diva, Maria da Glória, Íris, Orlando, Terezinha, Maria Aparecida e Selma. Maria Augusta Alves faleceu no dia 14 de junho de 1952, aos 57 anos de idade, não pode presenciar a grande obra de seu esposo.
Caboclo Teixeira não chegou a concluir o curso primário, tinha o dom da comunicação, uma inteligência privilegiada, grande fé em Deus e aptidão para os negócios, tanto que se sobressaiu na vida publica tendo sido vereador em São João Nepomuceno pelo PDS. Nesta condição começou sua caminhada para Prefeitura de Descoberto, sua luta pela emancipação que aconteceu em 12 de dezembro de 1953. No dia 31 de janeiro de 1955 tomou posse como 1º Prefeito eleito de Descoberto e seu Vice o Sr. José Batista de Rezende, como expressa o convite da época. Toda solenidade foi gravada pela Rádio Difusora de São João Nepomuceno, que a retransmitiu em programa especial no dia seguinte ás 12 horas. Tanto a missa como as solenidades foram abrilhantadas pela Corporação Musical “16 de Maio” da cidade de São João Nepomuceno.
O grande baile aconteceu no Cinema Íris, oferecido a sociedade descobertense e dos municípios presentes a posse, ao som do Jazz Sul-Americano, sob a regência do musicista José Picoroni, de São João Nepomuceno.
O jovem Prefeito passou por muitas dificuldades na sua administração municipal, conta-se que para realizar alguma obra ou pagar os funcionários sem atraso, fazia empréstimos em bancos em seu próprio nome, arcando com a responsabilidade de pagamento no dia determinado.
Um fato curioso deste notável descobertense foi conhecer seu ídolo Juscelino Kubitschek quando eleito para Governador de Minas. Mais tarde foi a Brasília de Jepp rever o amigo com quatro amigos: Gastão Nogueira, Voltaire da Silva, Dario de Mendonça e Ormelindo Policarpo (Bié). Lá chegando recebeu um quadro com fotografia e dedicatória do amigo, que disse quando voltasse no palácio podia dizer que era o Caboclo Teixeira e que ninguém o ia impedi-lo de se encontrar com o presidente.
Caboclo Teixeira teve muitas amizades, entre elas, Daniel Castanõn e José Roberto de Oliveira, o Sinhozinho. Daniel que era de Guarani e sabendo do valor da exploração da malacacheta na época, resolveu explorá-la, tendo o Caboclo Teixeira como sócio. As primeiras tentativas se deram para os lados da região conhecida como Botafogo, sem sucesso. Mais tarde conheceram um homem em Descoberto com o apelido de Paraíba (Dolores Alves), que já possuía grande experiência em mineração. Animados, os sócios com poucos recursos resolveram convidar para tomar parte na sociedade o Sinhozinho, que logo contrataram os serviços de Paraíba e começaram as pesquisas, onde pouco tempo depois foi encontrado na região denominada Caramono uma grande jazida de malacacheta.
Houve uma mudança muito grande na vida dos sócios e em Descoberto, pois a jazida rendeu aos três sócios muito dinheiro e proporcionou muitos empregos. Caboclo Teixeira com os lucros da mineração comprou a fazenda e as terras onde era explorada a malacacheta instalaram telefones ligando a fazenda à sua casa em Descoberto e a de Sinhozinho. Instalou também uma indústria de caulim e um escritório em São João Nepomuceno, comprou também a fazenda da Conceição fazendo a eletrificação com luz própria, colocou um engenho de serra e cana movido a energia elétrica bem como a máquina de beneficiar café que já existia, e para empatar o capital ganho, comprou um grande número de casas no então Distrito de Descoberto.
Vinham a descoberto várias pessoas ligadas a mineração e se hospedavam em sua casa, fazia várias viagens ao Rio de Janeiro para cuidar de negócios e em nada interferindo em sua cultura. A mineração recebeu o nome de Santa Terezinha por ser Caboclo Teixeira muito devoto da santa.
Logo após o final da guerra, a malacacheta perdeu grande parte do seu valor, o minério já muito profundo exigia grandes gastos para exploração, mas os três sócios não podiam parar, então decidiram construir uma usina açucareira e o local escolhido foi o também distrito de São João Nepomuceno chamado de Roça Grande, razão esta pela facilidade do escoamento do produto por ali ser servido pela Estrada de Ferro Leopoldina.
Para se construir a Usina que também se chamou Santa Terezinha, os sócios fizeram muitos empréstimos em bancos e como o retorno não foi rápido e sofrendo uma série de pressões resolveram vendê-la pouco tempo depois de estar funcionando.
Caboclo Teixeira sempre pensando no progresso de sua cidade, e a necessidade de gerar empregos, trouxe para Descoberto um fábrica de chinelos, instalou uma padaria chamada Nossa Senhora Aparecida com as aparelhagens mais modernas da época, esta ainda existe até hoje na cidade. Pensou também na pouca diversão dos descobertenses, então instalou o Cine Íris, onde não só exibiam filmes, mas também eram realizadas festas escolares. Possuía um armazém, era comprador e vendedor de café e representante dos Bancos do Brasil e Mineiro do Comércio e Indústria.
Caboclo Teixeira foi eleito por três mandatos para prefeito de Descoberto, sendo no seu primeiro mandato (1955 – 1959) eleito o primeiro Prefeito do recém criado Município de Descoberto; Depois de 1963 a 1967 e 1971 a 1973, provando que sua popularidade era fruto de sua dedicação, abnegação, esforço e luta em prol da melhoria de vida de seus munícipes. Era admirado por todos do seu partido e de partidos opostos.
Como Prefeito, dotou o município de Descoberto de infra-estrutura necessária a um crescimento salutar: construiu redes de esgoto e de águas pluviais, refez o serviço de abastecimento de água e reativou o posto de saúde contratando médicos e dentistas. Hábil político fazia-se presente junto ao governo estadual conseguindo a recuperação das estradas do município e abertura de outras interligando a zona urbana a rural; Substituiu as obsoletas pontes de madeira por concreto armado; Construiu escolas rurais, calçou grande maioria das ruas, construiu o prédio da delegacia de polícia, quartel e cadeia, o muro de arrimo que ocupa quase toda a extensão da Rua do Rosário, além de ter fundado o Ginásio em Descoberto. Instalou em Descoberto um campo de pouso no local chamado Pouso Alegre que encontra desativado atualmente, mas o local é usado para aterrissagem de para-pentes e asas-deltas que utilizam a Pedra do Relógio como rampa de salto.
Após ter cumprido seu terceiro mandato como prefeito de Descoberto, sua missão estava cumprida, afastava-se da em definitivo da política, mas deixava exemplos de dignidade e trabalho.
Caboclo Teixeira até seus noventa anos não dispensava seu cigarrinho, já falava pouco, mas transmitia um carinho e uma paz a todos que o visitavam, tanto que em sua festa de noventa anos foi um verdadeiro acontecimento na cidade, reunindo familiares, amigos e políticos. Homenageado com uma crônica do radialista Cláudio Temponi, da Rádio Sociedade de Juiz de Fora, atendendo solicitação de Sebastião Lamas de Lima, por ocasião dos 90 anos de Caboclo Teixeira.
No dia 9 de junho de 1987, morre Sebastião Teixeira Lopes Lima, o Caboclo Teixeira, homem de origem humilde que se destacou no Município de Descoberto como uma das mais ilustres figuras administrativas que pos ali passaram por todos estes anos. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Descoberto no jazigo da Família, seus despojos lá repousam com os da sua esposa Maria Augusta e de mais duas filhas, Terezinha e Diva.
Caboclo Teixeira foi muito homenageado por seus conterrâneos por causa de seu falecimento, uma dessas homenagens destacamos o artigo escrito pela Sra. Minervina Araújo Lima (em anexo), e a Moção de Pesar pelo passamento do Caboclo Teixeira que o conterrâneo Deputado Elmo Braz Soares fez conferir nos anais da Assembléia Legislativa, publicada no Minas Gerais do dia 12 de junho de 1987.
No dia 14 de maio de 1995, uma grande festa desde as primeiras horas da manhã, o povo descobertense se dirigiram a Praça da Matriz, completamente remodelada na atual gestão, para assistir, primeiramente a troca de nomes: a Praça da Matriz deixava de ser assim conhecida para receber a denominação de Praça Sebastião Teixeira Lopes Lima – Caboclo Teixeira; Uma homenagem do povo descobertense ao grande homem público que se tornou um dos marcos da Política Regional. Depois com a família toda reunida foi descerrada uma placa com dizeres alusivos ao ex-Prefeito e um busto de bronze retratando o grande político descobertense. Toda a cerimônia foi abrilhantada pela Banda de Música – Corporação Musical Santa Cecília, de Astolfo Dutra.
Óleo sobre tela retratando um fato histórico referente à missão do Alferes Joaquim José da Silva Xavier pela Região, conhecida anteriormente como
“Sertões proibidos”
Ao Fundo as escarpas da Serra do Relógio no Município de Descoberto.